Acidente em apresentação reforça urgência da cultura de segurança no circo tradicional

Ocorrência durante espetáculo evidencia fragilidades em protocolos de segurança e reacende debate sobre condições de trabalho e prevenção de acidentes no universo circense.

29/04/2025
Cultura de Segurança no Circo

Russas (CE) – Um grave acidente foi registrado na noite do último domingo (27), durante uma apresentação do Circo Porto Rico, instalado no município de Russas, interior do Ceará. O artista circense Eric Ronald realizava uma performance aérea em tecido acrobático quando o cabo de aço que sustentava o equipamento cedeu, provocando sua queda de uma altura estimada em seis metros.

A apresentação foi imediatamente interrompida. Eric foi socorrido com urgência e, segundo nota divulgada pela direção do circo, encontra-se internado na UTI, sob observação médica, após ter sido submetido a uma cirurgia para conter uma hemorragia interna.

“Neste momento, nosso artista Eric Ronald encontra-se internado na UTI, em estado de observação. Pedimos a todos que se unam a nós em orações, torcendo para que ele reaja bem e tenha uma pronta recuperação”, afirma o comunicado publicado pelo Circo Porto Rico em suas redes sociais.

Este é o segundo acidente grave registrado em apresentações do mesmo circo nos últimos anos. Em março de 2022, um trapezista também sofreu uma queda durante uma exibição na cidade de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza. Na ocasião, o artista caiu fora da rede de proteção e teve lesões na bacia, sendo transferido para o Instituto Doutor José Frota (IJF), em Fortaleza.

Diante desses episódios, o ocorrido em Russas reacende um debate fundamental para o setor: a necessidade de consolidar e promover uma cultura da segurança no circo, especialmente nos tradicionais. A arte circense, reconhecida por sua beleza e ousadia, envolve riscos inerentes, que exigem a implementação de normas técnicas, equipamentos adequados, manutenção preventiva e formação continuada dos artistas e técnicos.

Segurança não é obstáculo, é cuidado

A cultura da segurança não pode ser vista como um entrave à liberdade criativa do circo, mas como sua aliada. O respeito a normas como a NR35 – que trata da segurança para trabalhos em altura – deve ser incorporado às rotinas dos espetáculos, sobretudo quando envolvem modalidades aéreas, como trapézio, lira, tecido e corda.

Além disso, é fundamental que haja investimento na formação técnica de riggers (profissionais responsáveis pela montagem e ancoragem dos equipamentos), bem como no acompanhamento periódico dos equipamentos utilizados em cena.

Formação e cuidado como eixo formativo

Diversas iniciativas pelo Brasil têm apostado na inclusão da cultura da segurança como eixo pedagógico em escolas de circo, oficinas e cursos livres. O próprio projeto Picadeiro Político Pedagógico: Formação Circense em Rede, que vem sendo implementado em 12 escolas de circo social do Ceará, dedica um de seus módulos exclusivamente à formação sobre segurança, autocuidado e prevenção de acidentes, com foco na norma NR35 e na ética do cuidado.

A valorização da vida, o cuidado com o corpo e o bem-estar dos artistas devem ser princípios basilares de qualquer prática circense – seja em grandes lonas, pequenas trupes ou projetos sociais.

Que seja um tempo de aprendizado e fortalecimento

Neste momento de dor e apreensão, a comunidade circense se une em solidariedade ao artista Eric Ronald e a toda equipe do Circo Porto Rico. Que esse episódio possa impulsionar o setor a refletir sobre a importância de investir na segurança como parte indissociável do espetáculo, respeitando a tradição e garantindo futuro com dignidade para quem vive do riso, da técnica e da poesia do picadeiro.

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